quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Nova regras contábeis afetarão ganho de investidor

Colaboração do Élio Camargo do Grupo EmprBR


Novas regras contábeis afetarão ganho de investidor

Graziella Valenti
08/01/2008



Anna Carolina Negri / Valor



Fabio Cajazeira, sócio da PwC, diz que mudanças contábeis afetarão dividendos e múltiplos das companhias abertas


Esse ano promete agito para as empresas abertas e seus acionistas quando o assunto for contabilidade. A mudança da legislação brasileira afetará, além das companhias abertas, seus investidores. Serão diversas as alterações a serem absorvidas e nem todas foram percebidas ainda. E muitas companhias terão de acelerar a familiarização com o padrão internacional IFRS.




A Lei 11.638, promulgada em 28 de dezembro, abre o caminho para a convergência das regras brasileiras ao IFRS. Muitas mudanças foram feitas no próprio texto da lei. Essas terão de ser respeitadas já no balanço anual de 2008, que será publicado em 2009. Porém, grande parte das modificações depende de normalização pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Elas virão aos poucos e terão cronogramas específicos, conforme sua divulgação.




A despeito de uma adoção gradual das modificações necessárias para os balanços individuais das empresas, o investidor poderá se familiarizar com a nova realidade por meio das demonstrações financeiras consolidadas - que não têm efeito fiscal. Há dois cronogramas principais para isso. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central (BC), no esforço pela convergência, determinaram que empresas abertas e bancos publiquem balanços consolidados rigorosamente de acordo com o IFRS a partir de 2010.




Além disso, há situações em que o prazo é mais curto. As companhias que abriram capital ou migraram para o Novo Mercado têm de apresentar balanço consolidado em padrão internacional - IFRS ou o americano US Gaap - após dois exercícios completos listadas no espaço de governança diferenciada criado pela Bovespa, ou antes disso.




Com o processo acelerado, não demorará para os investidores perceberem que terão de se preparar para as alterações, que representarão uma revolução na contabilidade nacional. Na prática, no entanto, os reflexos só virão quando a contabilidade doméstica estiver plenamente adequada nos balanços individuais: que balizam dividendos e projeções de resultados das companhias.




Fábio Cajazeira, sócio e especialista em mercado de capitais da PricewaterhouseCoopers (PwC), afirma que haverá, por exemplo, ajuste na remuneração dos acionistas. Como a nova lógica afetará os balanços e, com isso, os lucros das empresas, haverá impacto nos dividendos - já que são pagos com base no desempenho.




Quando a realidade contábil brasileira estiver plenamente modificada, Cajazeira acredita que, além da participação dos acionistas nos lucros, haverá reflexos até mesmo sobre o valos das ações listadas na bolsa. "A cotação é, muitas vezes, produto de múltiplos baseados no resultado da companhia. " Em alguns casos, há ganhos e, em outros, perdas.




A reconciliação dos números do padrão nacional com o IFRS do Banco Itaú dá uma mostra do tamanho do impacto. Enquanto o lucro líquido do banco pela legislação societária foi de R$ 4,3 bilhões, em 2006, o ganho em IFRS somou R$ 6,4 bilhões. Já o patrimônio subiu de R$ 23,5 bilhões para R$ 27,5 bilhões, com a adequação dos parâmetros.




As diferenças de resultados geradas da transição de regras não são exclusividades das empresas brasileiras. As companhias européias, quando passaram por esse processo entre 2001 e 2005, também sofreram ajustes bilionários. Henri Fortin, especialista em administração financeira do Banco Mundial, afirmou que as mudanças no Brasil são de grande relevância para melhor inserção do país no contexto global dos mercados financeiros, cada vez mais complexos e interligados.




Apesar da possibilidade de as empresas listadas no Novo Mercado escolherem entre IFRS e US Gaap é de se esperar um aumento da opção pelo padrão internacional, no lugar do americano - até poucos anos, o mais difundido. A mudança no Brasil está em linha com a evolução global do tema. Vem aumentando o número de países que toma como base o IFRS e, em novembro, até o órgão regulador americano, a Securities and Exchange Commission (SEC), passou a permitir que as companhias estrangeiras listadas lá apresentem apenas os números no padrão internacional, sem necessidade de reconciliação com o US Gaap.




A preferência pelo IFRS por parte das empresas com governança diferenciada deverá facilitar a adaptação do investidor, na medida em que já demonstrará quais serão as companhias mais afetadas e as linhas do balanço que sofrerão os ajustes mais significativos. Cajazeira conta que cerca de 70% das empresas com nível de transparência diferenciado já estavam inclinadas a usar o IFRS. As demais consideravam ainda alguma chance de optar pelo americano em razão do padrão ser usado pelas concorrentes internacionais.




O superintendente de relações com empresas da Bovespa, João Batista Fraga, diz que não há intenção de mudar a regra. Ou seja, as empresas não serão obrigadas a escolher o IFRS. Elas poderão usar o US Gaap, se assim desejarem. Aquelas que já seguem o modelo americano também poderão continuar com essa opção. No entanto, admite que tanto as mudanças no Brasil quanto a decisão da SEC devem influenciar a predileção pelo padrão internacional.

Escrituração fiscal digital é adiada

Colaboração de Élio Camargo do Grupo EmprBR

Escrituração fiscal digital é adiada

Alessandro Cristo, de São Paulo
08/01/2008



A obrigatoriedade da escrituração fiscal digital (EFD) para os contribuintes de ICMS e de IPI foi prorrogada para o ano que vem pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). O Ato Cotepe/ICMS nº 20, de 2007, publicado no Diário Oficial da União (DOU) em 28 de dezembro do ano passado, adiou a entrada em vigor do sistema, prevista para 1º de janeiro deste ano, em um ano, mas o assunto ainda depende dos Estados para ser tirado do papel pela Receita Federal do Brasil (RFB).




A nova forma de escrituração fiscal, vinculada ao Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) da Receita Federal, unificará informações fiscais de todos os contribuintes do ICMS e do IPI e substituirá a escrituração em livros fiscais como o registro de entradas, de saídas, de apuração do ICMS e do IPI e o de inventário, que hoje devem ser impressos e encadernados. O objetivo do fisco com a mudança na escrituração fiscal é o de facilitar a detecção de fraudes e sonegação, segundo Flávio Araújo, coordenador geral de fiscalização substituto da Receita.




Mas, além dos contribuintes que participam dos testes de implantação da escrituração fiscal digital, os Estados, responsáveis pela arrecadação do ICMS, também pediram ao Confaz uma prorrogação do prazo de início da nova obrigatoriedade para poderem adequar seus sistemas, segundo Araújo. Isto porque, entre os Estados, somente Minas Gerais tem um projeto-piloto para testar o sistema. Em dezembro, a Superintendência de Arrecadação e Informações Fiscais da Secretaria de Fazenda mineira fez contato com a Federação das Indústrias do Estado (Fiemg) convidando fabricantes dos setores de tabaco, veículos e siderurgia a participar do projeto. Nos próximos dias a secretaria publicará uma portaria formalizando a medida. De acordo com Araújo, outros Estados já estão programando projetos para este ano.




A dificuldade ocorre porque o fisco receberá as informações eletrônicas em um formato determinado, o que obrigará os contribuintes a adaptarem seus softwares de controle de vendas e de contabilidade - os chamados ERPs - aos formatos definidos pela Receita. Para o consultor da Trevisan Outsourcing, Alessandro Mendes, que assessora empresas na adaptação de softwares para o Sped, as empresas médias e pequenas terão mais dificuldades com a escrituração fiscal digital, pois não têm o suporte de grandes empresas de tecnologia e, assim, arcarão com custos mais altos na mudança de sistema.




Para Werner Dietisch, diretor da empresa de softwares fiscais Lumen IT, que assessora uma das empresas convidadas pela Receita para os testes do Sped, ainda não é possível desenvolver softwares que atendam às exigências da Receita porque os detalhes técnicos ainda não foram divulgados. "Há inúmeras adequações necessárias, como o registro de dados de leituras de contas de luz para o crédito de ICMS", afirma.




A escrituração fiscal digital é uma das partes do tripé que compõem o Sped - as outras duas são a escrituração contábil digital (ECD), que substituirá a impressão dos livros diário e razão das empresas, e a nota fiscal eletrônica. A escrituração contábil digital entrou em vigor este ano para 12 mil grandes contribuintes cadastrados no programa de acompanhamento diferenciado da Receita. Eles serão comunicados até o fim deste mês que estão incluídos no programa e que, por isso, ficam obrigados a transmitir suas informações contábeis à Receita em formato eletrônico até junho de 2009 - ou seja, precisarão organizar suas informações eletronicamente durante este ano.




Já a nota fiscal eletrônica está em funcionamento, mesmo sem a obrig atoriedade. Hoje 84 empresas já emitem notas fiscais por meio eletrônico, e a partir de abril quase 600 empresas dos setores de cigarros e combustíveis estarão obrigadas a utilizar somente este sistema - obrigatoriedade que se estende aos fabricantes de automóveis, cimento, metalurgia, medicamentos e bebidas, além de frigoríficos e distribuidores de energia elétrica em setembro deste ano.

Internet muda a cara do antigo "faça-você-mesmo"

Colaboração de Élio Camargo do Grupo EmprBR

Internet muda a cara do antigo "faça-você-mesmo"

Heather Green, BusinessWeek - 08/01/2008



É uma tarde nublada de dezembro, mas o Pop Up Community Center no centro de Manhattan está fervendo. Espalhados ao longo de uma mesa branca de madeira, meia dúzia de pessoas, com ferro de passar, unem sacos plásticos para criar um tecido de material reciclável. Outros se debruçam sobre máquinas de costura, transformando o plástico em grandes bolsas coloridas, carteiras e até travesseiros. Ocasionalmente, recorrem a conselhos de Anda Lewis Corrie, que lidera uma oficina na qual se ensina a transformar velhos sacos plásticos em objetos que tenham alguma utilidade.




Mais um projeto de serviço comunitário? Não exatamente. Corrie trabalha na área de marketing da Etsy, um mercado virtual, na internet, no qual as pessoas vendem artesanatos de produção própria. O workshop de Corrie trata de compartilhar a experiência do "faça-você-mesmo", uma iniciativa que a Etsy e várias outras empresas, grandes e pequenas, tornaram um negócio considerável.




A Etsy não revela a receita, mas prevê tornar-se rentável no início do próximo ano com o que recebe: US$ 0,20 por item listado e mais uma comissão de 3,5% por mercadoria vendida pelo site. Em 2007, esses comerciantes venderam 1,92 milhão de itens, por US$ 26,5 milhões, de acordo com a Etsy. A empresa iniciante, criada há dois anos e meio, produz vídeos on-line e organiza oficinas com o objetivo de persuadir mais pessoas a aprender umas com as outras a criar artesanato e vendê-los na Etsy. Como a empresa é uma espécie de eBay para artigos de produção manual, quanto mais pessoas se inscreverem para vender seus artesanatos no site, melhor a empresa se sai. "Queremos ajudar as pessoas a ganhar a vida criando coisas", diz Corrie




Embora a mania por artesanato esteja bem consolidada, com vendas de US$ 31 bilhões em 2007, a internet ainda oferece espaço para crescer a passos rápidos. A Hubert Burda Media, uma revista de costura alemã criada há 58 anos, relançou seu site em inglês, BurdaStyle Web, em julho, para compartilhar modelos de roupas que podem ser modificados pelos visitantes para criar novos desenhos. A editora O´Reilly Media, de Sebastopol, Califórnia, lançou a Make and Craft há três anos. São revistas on-line e impressas que mostram como fazer a partir de vídeos e modelos enviados pelos leitores via internet. No site britânico StyleShake, recém-lançado, os usuários desenham e trabalham em conjunto pela internet em seus próprios vestidos de festa, que podem enviar para que a empresa os produza para eles.




Muitas dessas empresas dizem que seguem a linhagem da tecnologia de código aberto dos programas de computador, movimento iniciado nos anos 90 por programadores que queriam criar softwares que qualquer um pudesse usar. Em vez de ter um especialista ensinando as pessoas como fazer algo, o movimento do código aberto ressalta como grupos de pessoas podem compartilhar experiências e aproveitar esse conhecimento. Agora, essa idéia dissemina-se rapidamente.




"Há um ressurgimento do interesse no 'faça-você-mesmo' e surge o desejo de unir pedaços de informação e compartilhá-los como se fosse um código aberto", diz Elizabeth Osder, professora visitante da Annenberg School for Communications, da University of Southern California.





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O artesanato, que movimentou US$ 31 bilhões em 2007, pode crescer ainda mais com ajuda da web


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Para a Burda, o momento não poderia ser melhor. A empresa quer criar uma comunidade do faça-você-mesmo além da Europa. É a maior vendedora de modelos de costura no continente, mas diz ter apenas 2% do mercado nos Estados Unidos. Embora a Burda não tenha lucro com os modelos que são extraídos de seu site, espera que o boca-a-boca eleve as vendas desses padrões nos EUA. A cada semana, a Burda divulga um padrão diferente na internet, como calças de pernas largas ou as peças conhecidas como saia lápis com pregas. Os modelos são exibidos em formato PDF, que os visitantes podem copiar para seus computadores ou imprimir. Os costureiros podem alterar os modelos a seu gosto e não há restrições a que vendam a roupa finalizada.




A comunidade da BurdaStyle entra em regime de completo código aberto após cada padrão ser colocado na rede. Os membros trocam dicas e colocam fotos no fórum digital sobre como alterar o desenho. Até criam exibições de slides, passo a passo, para demonstrar como mudar o colarinho de um terno ou tornar um pijama em uma roupa para grávidas. Relançado há cinco meses, o BurdaStyle possui cerca de 29 mil membros e recebe 1,5 milhão de visitas por mês.




Uma de suas usuárias mais fiéis é Mirela Popovici, 28 anos, que passa horas no site. Baixa modelos, recebe conselhos nos fóruns virtuais e cria slides mostrando "como fazer". Programadora de computadores durante o dia, a moradora de Hollywood, Flórida, passa as tardes e fins de semana fazendo saias, vestidos e "tops". Em janeiro ela criou uma loja na Etsy. Popovici inscreveu-se para registrar seu site, de graça, sob o nome mirela.etsy.com. Paga à Etsy apenas as tarifas de listagem dos produtos e as comissões sobre as vendas. Agora, além de lingerie e jóias, ela vende algumas das roupas que faz usando os modelos da Burda.




A Etsy foi uma das pioneiras em fazer do compartilhamento de informações um bom negócio. No início de 2007, criou a Etsy Labs, uma comunidade em sua sede, instalada no decadente centro do Brooklyn. A cada dois ou três dias, os vendedores que usam o site da Etsy e outros artesãos promovem aulas noturnas nas quais ensinam uns aos outros suas habilidades, desde como empalhar animais e fabricar instrumentos musicais até a encadernar livros. A empresa, fundada por três amigos com vinte e poucos anos, que se conheceram quando estudavam na New York University, agora ostentam 50 mil vendedores ativos e 600 mil membros registrados.




O movimento virtual do faça-você-mesmo é forte entre as pessoas com menos de 30. O uso de internet é hábito e eles já compartilham quase todos os aspectos de suas vidas na internet. Para compartilhar esse conhecimento no mundo real falta apenas um passo. No ano passado, 45 mil pessoas lotaram a feira Fairgrounds, de San Mateo, Califórnia, onde a Make realizava sua segunda Maker Faire anual. Juntou 300 adeptos inovadores do faça-você-mesmo e apresentou corridas de ferramentas elétricas (lixadoras e cortadores de grama podem atingir quase 100 quilômetros por hora, se tiverem rodas) e uma girafa mecânica em tamanho comparável ao de uma verdadeira.




A experiência de Eric Wilhelm reflete o desejo de colocar a mão na massa. Enquanto se doutorava em engenharia mecânica no Massachusetts Institute of Technology (MIT), então com 23 anos, tornou-se adepto do kitesurfe, esporte em que se surfa na água puxado por um pequeno parapente. Como não tinha o dinheiro suficiente para comprar o equipamento, Wilhelm construiu suas próprias pranchas e mostrou detalhes dos projetos em seu site. Os leitores passaram a pedir mais informações e ajudaram a construir outros projetos. Há dois anos, ele lançou o Instructables.com, site no qual qualquer um pode contribuir com dicas de "como fazer" e ter o retorno dos leitores.




Agora, o site tem 7,5 mil diretivas de como fazer quase tudo, desde uma câmera fotográfica sem lentes, até esculpir uma cadeira de madeira. "Meu avô tinha um monte de vidros de comida de bebê vazios com parafusos e pregos no porão. As pessoas agora começam a ver como isso é valioso", diz Wilhelm. " É por isso que tricotar agora é moderno e está na moda." (Tradução de Sabino Ahumada)